Saúde dos rins para todos e em todo lugar
da Prevenção à Detecção e Acesso Equitativo ao Cuidado
Maria Cristina de Andrade em nome do:
Departamento de Nefrologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Pediatria
Marcelo de SousaTavares em nome do:
Departamento de Nefrologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Nefrologia
Idealizado em 2006 pela Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN) e pela “International Federation of Kidney Foundations” (IFKF), o Dia Mundial do Rim (DMR) tem como objetivo reduzir o impacto da doença renal em todo o mundo, sendo comemorado na segunda quinta-feira do mês de março.
Este ano, a data será celebrada no dia 12 de março. Atualmente a doença renal atinge cerca de 850 milhões de pessoas em todo o mundo. Um em cada dez adultos têm doença renal crônica (DRC), caracteriza por lesão renal, que se mantém por três meses ou mais. Muitas são as funções dos rins, dentre elas: regular a pressão arterial, eliminar as toxinas do corpo, controlar a quantidade de sal e água do organismo, além de produzir hormônios que evitam a anemia e as doenças ósseas.
A DRC costuma ser silenciosa em seus estágios iniciais, ou seja, não há sintomas ou eles são poucos e inespecíficos. Por este motivo, o diagnóstico pode ocorrer tardiamente, quando a função renal se encontra já bastante comprometida, muitas vezes em estágio avançado, sendo neste caso necessário tratamento dialítico ou transplante renal. Desta forma, prevenção e diagnóstico precoce da doença renal crônica são essenciais e podem ser realizados por meio de exames de baixo custo, tais como dosagem de creatinina no sangue e o exame de urina, além da medida da pressão arterial.
A doença renal crônica se encontra entre as principais causas de gastos em saúde, sendo que os custos de diálise e transplante consomem de 2 a 3% do orçamento anual de assistência médica em países de alta renda. Nos países de baixa e média renda, como o Brasil, a maioria das pessoas com doença renal crônica – DRC tem acesso inadequado à diálise e ao transplante renal.
A doença renal pode ser evitada e sua progressão para o estágio final pode ser postergada através do acesso adequado a diagnósticos e tratamento precoces.
Neste ano, 2020, o Dia Mundial do Rim tem como objetivo levar a melhor conscientização sobre o aumento crescente da incidência de doenças renais em todo o mundo, e proporcionar saúde renal para todos, em todos os lugares. Especificamente, a campanha de 2020 destaca a importância de intervenções preventivas para evitar o início e a progressão da doença renal.
Considera-se como “prevenção” o conjunto de atividades tipicamente categorizadas pelas três definições a seguir:
(1) Prevenção Primária, que implica intervir antes que ocorra comprometimento da saúde, no sentido de evitar o aparecimento de doença renal,
(2) Prevenção Secundária, medidas preventivas para o diagnóstico precoce e tratamento imediato da doença renal, evitando-se assim o desenvolvimento de problemas mais graves e
(3) Prevenção terciária, que se refere ao gerenciamento da doença renal após seu estabelecimento, com o intuito de controlar a progressão da doença e o surgimento de complicações mais graves.
Nos casos de crianças e adolescentes, especialmente, as medidas preventivas devem ser primárias, ou seja, o pediatra e outros profissionais devem trabalhar com objetivo primário de eliminar ou reduzir a exposição a fatores de risco para doença renal crônica.
Especificamente, a prevenção primária da doença renal requer a modificação de fatores de risco, incluindo diabetes mellitus e hipertensão que são as principais causas de DRC em adultos. Além disso, principalmente em crianças, devem evitar dietas não saudáveis, que podem levar a sobrepeso e obesidade, com consequente risco de hipertensão arterial e síndrome metabólica. O pediatra e outros profissionais de saúde, além de pais e educadores, devem incentivar aleitamento materno, atividade física regular, e evitar consumo e contato com fumo e drogas lícitas e ilícitas.
Além disso, devem ser pesquisadas anormalidades estruturais dos rins e do trato urinário que já podem ser observadas na ultrassonografia morfológica gestacional do feto, além de evitar o uso de drogas nefrotóxicas, tanto para o recém-nascido, crianças e gestantes.
Mesmo com a divulgação da importância do pronto diagnóstico e necessidade de acompanhamento, muitas crianças são diagnosticadas como portadoras de problemas renais somente quando a função dos rins já está bem comprometida. No Brasil e no mundo, de cada 10 crianças que são tratadas com diálise ou transplante, 5 são portadoras de alguma doença cuja primeira manifestação foi infecção urinária. A necessidade de investigação após episódio de infecção urinária deve ser divulgada e alcançar médicos que trabalham com Medicina de Família e Comunitária e Equipes de Saúde em Atenção Primária.
As intervenções primárias preventivas podem incluir triagem para pacientes com maior risco de doença renal crônica, com o auxílio de exames de urina e sangue. São considerados grupos de risco, por exemplo: recém nascidos de baixo peso e prematuros, presença de displasia ou hipoplasia renal, história de tumores e traumas medulares, glomerulopatias, entre outros.
Em crianças e adolescentes com doença renal pré-existente, a prevenção secundária, incluindo a normalização da pressão arterial, o controle glicêmico e do peso, são os principais objetivos da educação e das intervenções clínicas.
As crianças acima de 3 anos e adolescentes saudáveis devem ter seus níveis tensionais arteriais aferidos por profissionais de saúde ou pediatras nas consultas anuais de rotina, com técnica adequada e devem ser classificados a partir de tabelas que levem em consideração o sexo, a idade e a estatura. Aquelas diagnosticadas como hipertensas ou como portadoras de pressão arterial elevada, devem ser acompanhadas regularmente e ser orientadas em relação às medidas não farmacológicas (orientação alimentar e prática de exercícios, além de redução de peso quando necessário), ou mesmo quando necessária, a introdução de terapia medicamentosa.
Em pacientes com DRC avançada, torna-se necessário o manejo de comorbidades como uremia e doenças cardiovasculares.
Em 2020, no Dia Mundial do Rim pede-se a todos que defendam medidas concretas para promover e avançar na prevenção de doenças renais. Em países desenvolvidos a divulgação de informações sobre doenças renais se dá através de fundações e pessoas influenciadoras na sociedade. Ao contrário, nos países menos desenvolvidos, a informação nem sempre é bem divulgada, o que precisa ser modificado. Se cada um de nós divulgar informações sobre problemas renais a todas as camadas da sociedade, conseguiremos levar um futuro melhor a todas as pessoas.