Comunicação entre Pais e Filhos Adolescentes no Distanciamento Social devido à Covid-19

Departamento Científico de Adolescência da Sociedade Catarinense de Pediatria

Dra. Gianny Cesconetto

É desafiador para o cérebro do jovem, que ainda se encontra em franca remodelação, viver uma realidade na qual ele mesmo não compreende a dimensão, assim como seus pais. Será um aprendizado mútuo, mas é preciso lembrar que os pais são os “adultos”. E é o cérebro do adulto que precisa dar suporte ao jovem, por isso é importante flexibilizar algumas regras neste período de convívio familiar intenso.

  1. O que é comunicação?

É um processo dinâmico de troca de informações manifesta no saber compreender e saber interagir. Na medida que se expressa a capacidade de comunicação o adolescente vai elaborando o seu jeito de ser e construindo a sua identidade própria.

Os pais são os líderes amorosos no lar e seu papel é de suprir a necessidade emocional de amor que os adolescentes têm, afetando como consequência, o comportamento dos filhos.

 

  1. Por que é importante saber se comunicar?

Porque nem sempre o que falamos é o que é ouvido pelo outro. O entendimento do que é falado pode ser diferente do que é recebido. Desta forma, comunicação não é simplesmente falar o que se pensa, ou se percebe, ou se sente. Comunicação é uma capacidade a ser desenvolvida. Quantas vezes somos mal compreendidos, simplesmente por falar de um jeito ou de um modo não claro para o outro?!

A maneira de falar é importantíssima!

Exemplo do modo que não ajuda: Exemplo do modo que ajuda:
“Você é muito chato, não me incomode agora, vá estudar”. “Você está um tanto mal humorado no momento, será que poderia falar comigo em outro horário”?
Distancia os pais dos filhos Aproxima os pais dos filhos

 

  1. Diante do distanciamento social como o adolescente é afetado emocionalmente?

O jovem é uma parte da população que sofre imensamente o distanciamento, pois é da sua natureza, neste momento de vida, andar em grupo, se divertir com os pares e sentir-se pertencendo a uma turma. Interagir somente de forma virtual não é da natureza do ser humano, precisamos de toque físico e olho no olho. Imaginem como é para o jovem ficar sem namorar ou apenas namorar de forma virtual!? Uma tendência enorme ao tédio, isolamento no quarto, muitas horas de internet e como consequência quadros depressivos.

 

  1. Por que se torna tão difícil estabelecer uma comunicação entre pais e filhos(as) adolescentes na convivência diária do momento atual?

Porque depende do estilo parental, isto é, a forma de educar e demonstrar afeto de cada estilo se torna diferente no contexto familiar. Os estilos parentais, descritos por Maccoby & Martin, compreendem: autoritário, negligente, permissivo e democrático. Qual será o estilo adotado no contexto da sua família? Deseja saber? Para isso a descrição dos estilos segue nas próximas perguntas. Lembre-se, há horas que agimos mais conforme um estilo e em outras horas, em outro, mas sempre haverá um que é predominante. Reflita sobre o seu comportamento, pois quando os pais mudam os seus comportamentos, como reação, os filhos também se comportarão de forma a desenvolver autonomia e independência mais saudáveis e responsáveis.

 

  1. Como é o estilo parental autoritário?

Pais que tem uma exigência alta dos filhos e tendem a afirmar seu poder, isto é, ditam as regras e esperam que sejam seguidas sem maiores explicações. Enfatizam respeito e obediência pela autoridade. Pais mais controladores e que monitoram comportamentos dos filhos de acordo com seus padrões, isto é, não se interessam pelas opiniões dos filhos. Os filhos, como consequência, na relação com os pais, não compartilham de suas decisões, tornam-se mais conformados e apresentarão mais dificuldades nas interações com seus pares.

 

Exemplo do modo que não ajuda: Exemplo do modo que ajuda:
“Estou pedindo para você organizar suas roupas agora, pois eu necessito de ordem no seu quarto”. “Necessito que você organize seu quarto para que seja mais fácil você encontrar as roupas que deseja”.
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  1. Como é o estilo parental negligente?

Pais negligentes são os que tem exigência baixa dos filhos e tendem a não monitorar as atividades dos filhos. Os pais não estabelecem normas e não conversam com seus filhos sobre as regras. Na adolescência esses jovens tendem a ser impulsivos e antisociais.  Terão muito mais a influência dos pares para comportamentos de risco do que a influência dos pais em protegê-los.

 

Exemplo do modo que não ajuda: Exemplo do modo que ajuda:
“Não deseja fazer atividades físicas, então não faça”. “Acredito que é melhor para sua saúde realizar atividades físicas, você pode escolher”.
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  1. Como é o estilo parental permissivo?

Esses pais acreditam que seus filhos são capazes de assumir responsabilidades e dirigir suas vidas sozinhos, por isso a exigência é baixa. São carinhosos, mas pouco envolvidos na vida dos filhos. Típica frase: “você que se vire”. São filhos com bom nível de autoconfiança, mas com seus pares costumam ser imaturos e/ou agressivos, são menos responsáveis e mais dependentes.

Exemplo do modo que não ajuda: Exemplo do modo que ajuda:
“Faça como quiser, eu acredito que você saberá escolher o que é melhor”. “Na minha opinião acredito ser melhor para você escolher com mais paciência”.
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  1. Como é o estilo parental democrático?

Pais com exigência alta, carinhosos, colocam limites e regras e reforçam estratégias com resultados mais positivos na educação dos filhos. Os filhos reclamam das exigências, mas costumam ser mais independentes. Pais que participam mais ativamente da vida dos filhos e respeitam as individualidades, isto é, escutam o que seus filhos pensam e sentem e não desvalorizam.

 

Exemplo do modo que não ajuda: Exemplo do modo que ajuda:
“Penso que o melhor seria você aproveitar o seu tempo livre com leitura”. “O que você pensa ser melhor para aproveitar o seu tempo livre”?
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  1. Como os pais poderão aproximar-se de seu(sua) filho(a) adolescente?

O momento atual pede muita paciência e resiliência de todos. O mundo está em “guerra” e precisamos superar este momento que irá passar. Até lá, será muito importante para os pais aprenderem a lidar com os filhos adolescentes. Para facilitar a aproximação dos pais para com seus filhos se torna necessário conhecer “as cinco linguagens do amor”, descrita por Gary Chapman, que são: palavras de afirmação, toque físico, atos de serviço, tempo de qualidade e presentes. Todos nós apresentamos as cinco linguagens, isto é, como comunicamos o nosso amor por alguém e como preferimos receber. mas em cada um há uma que se manifesta de forma preponderante.

 

  1. Uma das linguagens do amor chama-se “palavras de afirmação”, o que vem a ser isso?

“Palavras de afirmação” de forma resumida, significa saber elogiar, motivar o esforço desprendido pelo jovem nas atividades do dia a dia. É sabido que os jovens precisam de limites, de estabelecimento de regras para a boa convivência, mas quando não cumprem os acordos, os pais tendem ao abuso verbal reprimindo o filho e causando ressentimentos e/ou rebeldias. Agindo desse modo os pais se distanciam dos filhos. Gritar e brigar porque o filho ainda não fez a atividade escolar no horário combinado/negociado, não é adequado, por isso é importante deixar clara as regras antes do fato acontecer e saber pedir desculpa quando perceber que magoou ou machucou afetivamente o filho. Comunicar o que parece óbvio é preciso: “te amamos e sempre amaremos, independente do que fizer da sua vida”.

 

Exemplo do modo que não ajuda: Exemplo do modo que ajuda:
“Não fez mais que a sua obrigação em alcançar um resultado bom em suas avaliações escolares com todo o trabalho que tenho para pagar a escola”. “Fico feliz por ver o esforço e a dedicação que você teve para alcançar esses resultados escolares, tenho certeza de que poderá melhorar ainda mais”.
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  1. Deseja saber o que significa dizer que “atos de serviço” é uma linguagem do amor?

Significa que se manifesta o amor através de atitudes de serviço ao outro, isto é, um desejo motivado internamente para dar um pouco de si ao outro. Não se deve confundir “atos de serviço” com manipulação ou chantagem emocional, isto é, compensar o filho pelo bom comportamento dando algo em troca ou porque concordou em fazer algo que os pais queriam. O “não” precisa ser dito ao filho de forma objetiva e clara, mas com amor.

 

 Exemplo do modo que não ajuda: Exemplo do modo que ajuda:
“Arrume seu quarto que está uma bagunça e isto me incomoda, se o fizer poderá ficar quantas horas quiser na internet”. “Eu o amo para fazer algo que acredito ser prejudicial para você, não importa o quanto você deseje ficar na internet, combinemos um horário e arrumaremos seu quarto”.
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  1. Como descrever a outra linguagem do amor chamada de “toque físico”?

Significa abraçar, beijar e dar colo, mas em tempo de distanciamento fica difícil executar e alguns jovens nem gostam do contato físico. É preciso saber a hora e o tempo adequado para oferecer o contato. A alteração de humor é uma das características dos jovens, e neste momento, o tédio, a tristeza, o isolamento se intensificaram. Alguns podem até apresentar comportamentos regressivos do desenvolvimento, como desejar dormir junto dos pais. O clima emocional do jovem precisa ser percebido pelos pais e esses precisam, pelo menos, possibilitar que as emoções, como choro fácil ou palavras de irritação, possam ser vivenciadas, ditas e acolhidas. Lembre-se os pais são os adultos e por isso precisam “emprestar” o cérebro adulto influenciando através do seu próprio comportamento.

 

Exemplo do modo que não ajuda: Exemplo do modo que ajuda:
“Nossa, não vou mais tocar em você, percebo que você fica irritado”?

 

“Virou criancinha agora e quer dormir na nossa cama é”!

“Posso neste momento oferecer um colinho para você se tranquilizar”?

 

“Entendo seu sofrimento e posso dormir com você nesta noite”.

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  1. No que consiste a forma chamada “tempo de qualidade”?

Consiste em os pais darem atenção exclusiva naquele momento para o filho, pois nada mais importa. Reservar tempo para estar presente e inteiro naquilo que estiverem fazendo, isto é, estar e ficar juntos, mesmo que seja cada um lendo o seu próprio livro.

Exemplo semelhante é quando se inicia um namoro e estamos apaixonados. O desejo é de ficar o tempo todo grudado, porque tudo é maravilhoso quando juntos. Estar com os filhos, nestes momentos de isolamento, pode ser enriquecedor. Aproveitar para aprofundar o conhecimento do que o seu filho pensa, percebe, sente ou deseja para vida dele, é uma grande oportunidade!

 

Exemplo do modo que não ajuda: Exemplo do modo que ajuda:
“Vai fazer algo útil ao invés de ficar deitado neste sofá com seu celular”. “Vamos assistir aquele filme que você disse que gostaria de ver”?
Distancia os pais dos filhos Aproxima os pais dos filhos

 

  1.  “Presentes” são uma das linguagens do amor? Como isso?

Na verdade, depende de como se entende o que significa “presentes.” Presente como linguagem do amor, significa uma graça, ou seja, aquilo que se faz ou se recebe de modo gratuito. Para tanto é preciso fazer um certo grau de cerimônia na entrega do presente para que ele simbolize dizer “eu me importo com você, você é importante para mim”. Somente dar coisas materiais não significa uma linguagem de amor.

Desta forma, fazer com que seu filho pague, por algo que está desejando muito ou para um propósito específico, com uma parte do seu próprio dinheiro (da “mesada”, por exemplo) é importante para que ele mesmo dê valor ou reconheça o esforço necessário para adquirir o que deseja.

 

Exemplo do modo que não ajuda: Exemplo do modo que ajuda:
“Deseja um celular novo por quê? Este ainda está funcionando”? “Deseja um celular mais moderno? Então, me ajude a pagá-lo”.
Distancia os pais dos filhos Aproxima os pais dos filhos

 

  1. De que forma posso manter uma comunicação, amigável e amorosa, com meu(minha) filho(a)?

Há várias maneiras de aproximar-se dos jovens, uma delas é perguntando o que ele acredita como verdade. Esta atitude abrirá muitas portas para o conhecimento mútuo. É na comunicação que se troca informações, um sobre o outro, e se tem a possibilidade de conhecer a si próprio, isto é, ter mais consciência de si e será essa consciência que promoverá a liberdade e autonomia dos filhos.

 

Sugestões de perguntas para fazer aos filhos e abrir o coração para escutar. Você se surpreenderá com as respostas.

“Você poderia me ajudar a identificar quando eu te crítico e não percebo?”,

“Se você pudesse mudar alguma coisa em mim, o que você mudaria?”,

“O que poderia melhorar no nosso relacionamento?”.

Desfrute da boa comunicação com seu(sua) filho(a) e aproveite o distanciamento social de forma positiva.

 

Referências bibliográficas

Chapman G. As cinco linguagens do amor dos adolescentes. Traduzido por Klassen S. 2a ed. SP: Mundo Cristão, 2006.

Gomide PIC. Inventário de Estilos Parentais. Modelo teórico: Manual de aplicação, apuração e interpretação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

Mondin EMC. Práticas educativas parentais e seus efeitos na criação dos filhos. Psicol. Argum., 26(54), 233-244, 2008.

Vitalle MSS. Medicina do Adolescente: fundamentos e prática. In: Orientação a pais. 1a ed. RJ: Atheneu, 80: 621-624, 2019.

Entrevista de “Lázaro Ramos a Leandro Karnal no programa Espelho” Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vYmJEW7E05s. Acesso em 13 de abril de 2019.