SMAM 2020 – SCP: Apoiar a Amamentação para um Planeta mais saudável!

Dra. Maria Beatriz Reinert do Nascimento
Presidente do Departamento de Aleitamento Materno da SCP

O crescimento e o desenvolvimento normais das crianças dependem de um elenco complexo de fatores. O potencial funcional de cada uma delas é determinado por herança genética, e pode ser incrementado a partir da influência mútua de outros fatores ambientais, como um período gestacional adequado, nutrição apropriada, controle das infecções, estimulação eficaz, interação social proveitosa e cuidados parentais competentes.

No mundo atual, globalizado e de tanto progresso tecnológico, as crianças ainda enfrentam ameaças para a saúde, algumas delas são o aumento da prevalência de obesidade, a persistência da desnutrição e as mudanças climáticas, com seu efeito na produção agrícola e consequência no suprimento de alimentos, colocando em risco a nutrição e o desenvolvimento sustentável do planeta.

É fundamental a preocupação com o bem-estar nutricional dos nossos pequenos pacientes, buscando-se diversidade de nutrientes e padrões alimentares saudáveis, incluindo a promoção do aleitamento materno. Não pode ser esquecido que uma boa alimentação determina um sistema imunológico mais fortalecido, ajudando a garantir boas condições de saúde hoje e no futuro, bem como salvaguardando o planeta e minimizando danos ambientais.

Diz-se que o período ideal para se tentar evitar ou diminuir a morbidade e a mortalidade na vida adulta é durante a infância. O aleitamento materno é a base para práticas saudáveis de nutrição tanto para os bebês, como para suas mães e suas famílias, que escolhem a amamentação quando recebem informações corretas e incentivo dos familiares, dos amigos, da comunidade, e dos profissionais de saúde, especialmente dos pediatras.

Mas, amamentar não é uma tarefa fácil, nem de ser aprendida, tão pouco de ser ensinada, por isso os pediatras precisam atualizar seus conhecimentos e desenvolver habilidades clínicas específicas para que possam ajudar as mulheres a iniciar e manter com sucesso a lactação, superando todos os desafios para serem capazes de aleitar exclusivamente por mais tempo. E considerando que a experiência com a alimentação infantil é um processo dinâmico, as famílias vão continuar precisando da orientação e incentivo do pediatra também à medida que o bebê for crescendo, e mudando suas necessidades nutricionais.

É conhecido o fato da amamentação facilitar o estabelecimento do vínculo mãe-filho, o que por sua vez, combinado a perfeita composição do leite humano, pode influenciar positivamente a capacidade cognitiva da criança. A amamentação também tem o potencial de prevenir a desnutrição, bem como reduzir o risco de sobrepeso e obesidade na infância, e das doenças crônicas não transmissíveis no adulto, além de promover a saúde materna.
Embora sejam públicos e bem divulgados os benefícios do uso de leite humano, a prática clínica, muitas vezes, está em tamanha oposição aos avanços científicos e aos interesses dos pacientes. Nesta perspectiva, não se pode deixar de mencionar esta época desafiadora de pandemia pelo novo Coronavírus (SARS-CoV-2), vivenciada por todos nós, de verdadeira reviravolta na publicação acadêmica, e onde as diretrizes para manejo da COVID-19 mudam muito rapidamente com o melhor entendimento sobre a infecção.

Interessante ponderar que os inúmeros benefícios da amamentação superam substancialmente os riscos potenciais de transmissão da doença associada ao Coronavírus (SARS-CoV-2). Desde que uma mãe infectada tome as devidas precauções, ela pode amamentar seu bebê, se desejar. Ela precisa seguir rigorosamente as recomendações de lavar as mãos por pelo menos 20 segundos antes e depois de tocar o bebê, usar máscara durante as mamadas, e fazer a limpeza das superfícies ao seu redor.

Independentemente da suspeita ou comprovação de COVID-19, deve ser permitido que mães e bebês pratiquem o contato pele a pele logo após o nascimento, e permaneçam no mesmo quarto no alojamento conjunto, durante o estabelecimento da lactação. Para isso, recomendações estritas de higiene, banho no leito, troca de roupas, uso de máscaras, lavagem das mãos e distância entre o leito da mãe e o berço do neonato devem ser seguidas.

Se a mãe estiver gravemente doente com COVID-19, não podendo ou não desejando continuar a amamentação diretamente no peito, ela pode retirar o próprio leite para que seja oferecido ao seu filho, com segurança, em copinho, xícara ou colher.

Vale ressaltar que nenhum substituto do leite materno atinge a sua qualidade nutricional, ou garante as suas vantagens. Na verdade, a redução do uso desnecessário de fórmula infantil, além de melhorar a segurança alimentar do lactente, também pode diminuir o impacto ambiental, pois a sua produção e utilização contribuem para aumentar o problema dos gases do efeito estufa, majorar o gasto com energia e transportes, e incrementar a geração de resíduos do descarte de embalagens, colheres e mamadeiras.

Fornecer assistência eficiente e de alta qualidade em Pediatria, também diz respeito a ajudar uma mãe a entender as implicações das escolhas alimentares que faz para seu filho, pois esta decisão traz consequências econômicas e de saúde. Toda criança merece os benefícios da amamentação, e nessa era de mídias sociais e acesso sem paralelo às informações, é preciso assumir atitudes positivas e disseminar mensagens corretas sobre esta prática, com intuito de buscar um futuro sustentável e mais saudável para todos nós e para o planeta.

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