Queimaduras

No Brasil as queimaduras representam a quarta causa de morte e hospitalização, por acidente, de crianças e adolescentes de até 14 anos. A maioria das queimaduras ocorre na cozinha e na presença de um adulto. Em muitos casos o tratamento é muito doloroso, demorado e deixa marcas para sempre.

Causas comuns
• Escaldadura (queimadura por líquidos quentes) – é a principal causa em menores de 5 anos.
• Contato com fogo e objetos quentes – as queimaduras por chamas são mais graves, atingem maior extensão e profundidade da pele. O álcool é um importante agente causador.
• Queimadura provocada por substâncias químicas – a ingestão de soda cáustica continua sendo a maior fonte de queimaduras químicas em crianças.As pequenas pilhas, as baterias de relógios e de aparelhos eletrônicos representam perigo por possuir conteúdo corrosivo.
• Queimadura por exposição à eletricidade – os acidentes por fios e aparelhos elétricos acometem mais as crianças menores de 5 anos. Também são vítimas os adolescentes que ao empinar ou retirar pipas da rede elétrica têm contato com fios de alta tensão.
• Exposição excessiva ao sol.

Classificação das queimaduras
As queimaduras são classificadas em primeiro, segundo e terceiro graus dependendo da profundidade do dano provocado na pele. Quaisquer dos acidentes acima mencionados podem provocar diferentes graus de gravidade.
Primeiro grau:
• Atinge a camada superficial da pele, que fica vermelha, quente e dolorosa, mas não forma bolhas. Ocorre por exemplo quando a pessoa fica exposta ao sol por períodos prolongados.
• A cura espontânea ocorre em 3 a 6 dias, sem deixar cicatrizes.
• Segundo grau:
• Atinge mais profundamente a pele, que se apresenta dolorosa, vermelha e com bolhas. O edema (inchaço) e a dor são importantes. É comumente observada nas queimaduras por líquidos quentes.
• A evolução depende da gravidade das lesões: quando menos profundas, a cura pode ocorrer em cerca de duas semanas sem deixar cicatrizes ou com cicatrizes discretas. As mais profundas demoram várias semanas e podem resultar em cicatrizes significativas
• Terceiro grau:
• Todas as camadas da pele são lesadas. A ferida é seca, brancacenta ou marrom, e a dor é menos intensa devido aos danos nos nervos. Observada freqüentemente nas queimaduras por chama, nas queimaduras químicas e elétricas.
• O tratamento é complexo, exigindo cirurgia plástica reparadora com enxerto de pele.
Quanto à extensão, as queimaduras são identificadas de acordo com o percentual de área do corpo acometida, que os médicos chamam de “superfície corporal queimada (SCQ)”. Pode-se considerar que a silhueta da mão da própria criança corresponde a 1% de SCQ e, por exemplo, se a criança queimar uma área do corpo correspondente ao tamanho de duas mãos espalmadas ela queimou 2% de SCQ.

O que fazer
Todas as queimaduras devem ser tratadas de forma imediata para reduzir a temperatura da área queimada e o dano da pele e tecidos subjacentes.
Busque atendimento médico imediato se:
• A queimadura for considerada de segundo ou terceiro graus.
• Se a área queimada é grande, mesmo que a queimadura não pareça grave, ou sempre que a queimadura parecer cobrir mais de 15 a 20% do corpo.
• A queimadura for provocada por fogo, corrente elétrica ou substância química.
• A queimadura é no rosto, couro cabeludo, articulações ou genitais.
• A queimadura parece estar infectada (inchada, com pus, cada vez mais roxa ou com linhas roxas na pele que rodeia a ferida).

Primeiros cuidados
Até que se tenha acesso ao atendimento médico siga as seguintes orientações:
• Retire a roupa que cobre a área queimada. Se a roupa estiver grudada na área queimada lave a região até que o tecido possa ser retirado delicadamente sem aumentar a lesão. Se continuar aderido à pele, o tecido deve ser cortado ao redor do ferimento.
• Remova anéis, pulseiras e colares, pois o edema se desenvolve rapidamente.
• Coloque a área queimada debaixo da água fria (e não gelada) ou coloque compressas limpas e frias sobre a queimadura até que a dor desapareça. O resfriamento das lesões com água fria é o melhor tratamento de urgência da queimadura. A água alivia a dor, limpa a lesão, impede o aprofundamento das queimaduras e diminui o edema (inchação) subseqüente.
• Não utilize compressas úmidas por longo tempo em queimaduras extensas, pois podem ocasionar hipotermia (a temperatura do corpo da vítima fica abaixo do normal).
• Envolva a criança com lençol limpo, agasalhos, e encaminhe para o atendimento médico.
• Dê um analgésico para alívio da dor.
• Nas crianças conscientes e colaborativas com pequenas áreas queimadas (até 10% de SCQ) a hidratação oral com água e sucos de frutas pode ser iniciada.
• Nas queimaduras extensas a perda de líquidos é muito grande e a reposição de líquidos e eletrólitos por via venosa, o mais rápido possível, é fundamental para sobrevivência do paciente.

O que não deve ser feito
• Não use gelo nas queimaduras.
• Não fure as bolhas da queimadura.
• Não passe nada na queimadura. Não use pomadas, nem produtos caseiros tais como clara de ovo, pó de café, banha de galinha, pasta de dente, pimenta, dentre outros, pois além de não trazer quaisquer benefícios, podem favorecer as complicações infecciosas.
• Não ofereça bebida alcoólica ao paciente.

Queimaduras por fogo (em caso de incêndios e chamas)
• O certo é cair no chão e rolar de um lado para o outro para extinguir as chamas, ou então, usar um casaco, toalha ou cobertor para abafá-las. Durante o incêndio, arrastar-se embaixo da fumaça evita intoxicação. Muitas das mortes são causadas pela inalação da fumaça e de gazes tóxicos.
• Pacientes vítimas de queimaduras em ambientes fechados (casa, automóvel) têm risco de lesão de vias aéreas e inalação de fumaça. Qualquer pessoa que apresentar queimaduras na face ou lábios, com edema, rouquidão, tosse irritativa, dificuldade respiratória, deve ter prioridade de atendimento devido ao risco de obstrução respiratória.

Queimaduras elétricas
• Desligue o interruptor da chave
• Afaste a vítima da corrente elétrica.
• Remova a vítima do condutor com material isolante (cabo de vassoura, tapete de borracha).
• Verifique se a vítima está respirando e com o coração batendo. Se estiver em parada cardiorrespiratória inicie as manobras de ressuscitação enquanto aguarda o SAMU -192.
• Resfrie as lesões com água fria.

Queimaduras químicas
• A simples suspeita de ingestão de substância corrosiva (soda cáustica, amônia, limpa alumínio, limpa forno, baterias e pilhas) deve ser considerada uma emergência, mesmo que a criança se apresente sem sintomas.
• O maior número de informações deve ser obtido a respeito da substância e da quantidade ingerida.
• A face e a boca devem ser lavadas com água fria na tentativa de livrar a criança de qualquer partícula cáustica residual.
• Manter a criança em jejum (não oferecer nem água) e não induzir vômitos até que seja avaliada por médico do serviço de referência. Pode ser necessária a realização de endoscopia digestiva.
• Se a criança ingerir bateria de relógio ou de aparelho eletrônico procure imediatamente atendimento médico, pois as baterias contêm conteúdo corrosivo que podem causar perfuração do tubo digestivo.

Medidas de prevenção
Os acidentes não ocorrem por acaso e a prevenção constitui a única medida realmente eficaz.

Preparo do banho: a temperatura ideal da água para o conforto e a segurança do bebê é 37ºC.
Coloque primeiro a água fria na banheira e em seguida acrescente a água quente. Teste a temperatura da água com a mão, movendo-a por toda a banheira para ter a certeza de que não há nenhum ponto muito quente.
Não deixe a criança regular a temperatura do chuveiro ou da água da banheira sozinha.

Mamadeira: jamais utilize o forno de microondas para aquecer a mamadeira. Há risco de queimaduras graves da boca e garganta. O leite pode ser dado à criança a temperatura ambiente.

Banho de sol: somente antes das 10 horas ou depois das 16 horas. Exposição ao sol durante grandes períodos, ou fora destes horários, provoca queimadura e câncer de pele. Até os 6 meses de idade não é recomendado o uso de protetor solar.

Tomadas e fios desencapados representam risco de choque elétrico: as crianças colocam objetos metálicos nas tomadas e os levam à boca. Coloque tampas de proteção nas tomadas e substitua os fios desencapados.
Nunca faça “gambiarras e gatos” com a rede elétrica. É perigoso e pode custar a vida de seu filho!
Cozinha não é lugar de criança. É o local de maior risco para queimaduras. Crianças com menos de dois anos compreendem mal as advertências. Coloque uma barreira física como grade de proteção na porta.
As panelas devem ficar nas bocas de trás do fogão, sempre com o cabo voltado para o fundo e longe do alcance das crianças.
Evite o uso da boca dianteira para fervura de líquidos e frituras.
Panela com o fundo amassado e fogão que balança também representam riscos (figura 4).
Cuidado com a tampa do forno, pois as crianças podem usá-la como degrau, virando o fogão e as panelas em cima delas.
Líquidos e alimentos quentes não devem ser manuseados com a criança no colo e devem ser mantidos longe da borda dos balcões, pias e mesas. E lembre-se: a criança pode puxar a toalha de mesa! Todo cuidado é pouco ao transportar panelas com líquidos quentes.
Fósforo e isqueiro devem ficar longe do alcance das crianças.
Ferro de passar roupa e aparelhos elétricos também devem ficar fora do alcance das crianças.
Álcool líquido e outros combustíveis (querosene, gasolina, óleo diesel, tinner) não devem ser mantidos em casa. Frascos com estes produtos se inflamam na presença de chama ou faísca e provocam queimaduras muito graves. Acetona também é inflamável.
Churrasqueira – mantenha a criança longe da churrasqueira. Nunca utilize álcool para acender o fogo e nem deixe garrafas de álcool ou de outros combustíveis perto da churrasqueira.
O frasco de álcool pode “explodir” atingindo várias pessoas, com conseqüências desastrosas.
Fogos de artifícios e balões – em festas juninas não deixe as crianças brincarem perto de fogueiras, nem soltar fogos de artifícios e balões.

Produtos corrosivos
Todos os produtos de limpeza, higiene, devem ser estocados fora da vista e do alcance das crianças.
Não guarde em casa produtos muito perigosos, como: soda cáustica, ácidos, pesticidas agrícolas.
Guarde sob chave qualquer produto químico, por mais inócuo que aparente ser.
Dê preferência a produtos que não estejam em embalagens atrativas e que sejam de difícil manipulação pela criança.
Pilhas e baterias de aparelhos eletrônicos – devem ser guardados ou desprezados em local seguro.
Brinquedos – para crianças menores de 8 anos evite brinquedos com elementos de aquecimento, baterias, tomadas elétricas.
Pipas – Ensine as crianças a não brincar próximo à rede elétrica de alta tensão, principalmente com pipas. Nunca retirar pipas presas aos fios da rede elétrica.

Fonte: Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da SBP