Gerson José Coelho
Departamento Científico de Adolescência da SCP
As sociedades médicas de Pediatria e Ginecologia/Obstetrícia têm respondido prontamente a iniciativas que possam influenciar significativamente na saúde da população, como é o caso da Lei 13.798, que acrescentou artigo no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) instituindo a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência.
Embora os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrem uma diminuição sustentada da taxa de natalidade na faixa etária de 15 a 19 anos – na série histórica de 2003 a 2016, isso também ocorre de forma mais contundente em outras faixas etárias (20 a 24 anos). Apesar disso, mesmo com esses dados, ainda o número absoluto é muito elevado correspondendo a 477.000 nascidos de mães adolescentes (18%), em 2016.
Diversos estudos têm demonstrado os riscos associados à gravidez tanto para a mãe quanto para o recém-nascido. Quanto mais jovem é a mãe maiores poderão ser as complicações relacionadas à gestação, principalmente nutricionais e obstétricas, como pré-eclâmpsia. A demora do início do pré-natal e a falta de aderência, além do nem sempre presente apoio familiar e do companheiro, também contribuem para consequências indesejadas à mãe e ao recém-nascido.
Os prejuízos relacionados a projetos de vida e ascensão social são devastadores, principalmente nas classes sociais menos favorecidas, justamente onde ocorrem mais casos. A evasão escolar é quase a regra, principalmente nos meses finais da gestação.
Nesse contexto, os filhos de mães adolescentes podem ter complicações neonatais decorrentes dos fatores acima elencados e vão necessitar maiores cuidados de saúde. Prematuridade, abandono, falhas na amamentação, falta de apoio social e econômico por parte do pai, falhas no acompanhamento pediátrico e esquema vacinal incompleto são mais comuns nessas crianças.
O pediatra costuma acompanhar seus pacientes por vários anos, numa relação que envolve principalmente a confiança da criança/adolescente e dos pais. Para desempenhar de maneira satisfatória essa função, ele precisa estar capacitado a oferecer cuidados de saúde e orientações antecipatórias úteis para a prevenção dos agravos relacionados à sexualidade. Essa capacitação envolve a necessidade de conhecer as questões relacionadas à saúde sexual e reprodutiva e ao desenvolvimento psicossexual dos adolescentes, independente do gênero. O pediatra deve estar familiarizado com as questões ético-legais e técnico-científicas associadas à orientação contraceptiva. Assim, desde que mantenha boa relação médico-paciente-família, pode tentar identificar precocemente fatores de risco e estimular fatores de proteção que influenciem no pleno desenvolvimento de seus pacientes.
Garantir espaço privativo nas consultas, a confidencialidade e o sigilo das informações são atitudes imprescindíveis para proporcionar ambiente adequado para que o adolescente possa se sentir respeitado e protagonista.
Dessa forma poderemos, quem sabe, fazer a diferença.
1. IBGE – Séries históricas disponível em https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/apresentacao.aspx acessado em 23/01/2018
2. Bouzas ICS, Cader AS, Leão L. Gravidez na adolescência: uma revisão sistemática do impacto da idade materna nas complicações clínicas, obstétricas e neonatais na primeira fase da adolescência. Adolesc Saude. 2014,11(3):7-21
3. Azevedo AEBI, Eisenstein E, Bermudez BEBV, Oliveira HF, Goldberg TBL, Fernandes EC, et al. Guia Prático de Atualização: Anticoncepção na Adolescência. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Pediatria, 2018 (Diretrizes).